Excertos retirados do livro "Psicologia de massas do fascismo" de Wilhelm Reich (autor do qual li vários livros entre os meus 16 e 18 anos e cujos escritos influenciaram bastante as minhas ideias da época e actuais sobre a sociedade patriarcal repressiva, a sexualidade e a religiosidade teísta).
Crianças não acreditam em Deus. A fé em Deus só se inculca nelas quando têm de aprender a reprimir a excitação sexual, que ocorre a par da masturbação. Assim, começam a ter medo do prazer e, depois, a acreditar realmente em Deus, a temê-lo. Por um lado, elas o temem como um ser omnipresente e omnisciente, e, por outro, invocam a sua protecção contra a própria excitação sexual. Tudo isto tem a função de evitar a masturbação. A inculcação das concepções religiosas processa-se, portanto, na primeira infância. Contudo, a ideia de Deus não seria suficiente para reprimir a energia sexual da criança, se não estivesse associada às imagens reais do pai e da mãe. Quem não respeita o pai comete um pecado; em outras palavras, quem não teme o pai, quem se entrega ao prazer sexual, é castigado. O pai severo, que nega a satisfação dos desejos da criança, é o representante de Deus na fantasia da criança, é quem executa a vontade de Deus. E se a veneração pelo pai é prejudicada pela compreenção real das suas fraquezas e insuficiências humanas, isso não leva à sua rejeição pela criança. Ele continua a existir na imagem de uma concepção de Deus abstrata e mística. Na organização social patriarcal, invocar Deus é invocar a autoridade real do pai. A criança, ao invocar "Deus",refere-se, na realidade ao pai.(...)
A inibição genital e a ansiedade do prazer podem ser, em qualquer dos casos, considerados como a essência energética de todas as religiões patriarcais que negam a sexualidade.
A religiosidade hostil ao sexo é producto da sociedade patriarcal autoritária. Nesse contexto, a relação pai-filho com que nos deparamos em todas as religiões do tipo patriarcal não é mais do que um conteúdo necessário, socialmente determinado, na experiência religiosa; mas essa própria experiência procede da repressão sexual nas sociedades patriarcais. A função que a religião passa a cumprir no decorrer dos tempos, a atitude de obediência em relação à autoridade e à renúncia, é apenas uma função secundária da religião. Ela pode apoiar-se numa base sólida: a estructura do homem patriarcal, moldada por meio da expressão sexual. A fonte viva da atitude religiosa e o eixo em torno do qual se produzem os dogmas religiosos residem na negação dos prazeres do corpo (...)
sábado, 15 de março de 2008
Psicologia de massas do fascismo
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